sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos (2009)


A trama gira em torno de Zeca (Caio Blat), e suas crises existenciais-amorosas por conta de suas insatisfações pessoais e maritais. Ele é casado com Julia (Maria Ribeiro), uma mulher bastante diferente dele. Enquanto ele é acomodado numa vida sem qualquer ambição, vivendo da mesada que o pai (Daniel Dantas), lhe dá da herança da mãe, ela é mais bem resolvida em todos os planos, e cheia de sonhos e ambições.

Zeca diz escrever um romance, mas empacou na página 50 e duvida de seu suposto talento. Com tanto tempo vago, ele entra numa paranoia de que sua mulher tem um caso com a amiga argentina, Carol (Luz Cipriota), e começa a seguir a moça. Não é nenhuma surpresa que o rapaz vai se apaixonar pela outra garota. Mas o que mais surpreende é como a relação se desenrola, com alguns momentos, como a primeira transa, envolvendo um misto de sadismo e mau gosto.

O rapaz se envolve com as duas mulheres, o que o faz se sentir levemente culpado, mas nem tanto, pois ele aproveita bem as tardes com a argentina e as noites com sua mulher. Ainda assim, ele suspeita que elas tenham um caso.

A única pessoa minimamente sensata em todo o filme é o personagem do pai dele, que cobra do filho atitudes mais condizentes com sua idade. Ele projeta no rapaz os seus sonhos, afinal, ele mesmo é um escritor frustrado. Mas, com suas cobranças, é também capaz de mostrar como Zeca ainda tem muito que amadurecer.

Como a maior parte dos filmes que usa uma narração em off, o texto é redundante, quando não brega e desnecessário. O tom dessa narração é um meio-termo entre floreios de novelas românticas do século XIX e romance policiais de clima noir.

A redundância faz parecer que o diretor não crê muito na capacidade de entendimento de seu público, portanto, precisa explicar cada coisa para que não fiquem dúvidas de que Zeca esteja ou sofrendo, ou amando, ou perdido na vida. É curioso que um filme escrito por um roteirista seja tão pobre exatamente no texto.

Ao longo de seus 90 minutos – que parecem bem mais – Histórias de Amor... fala de amor, amadurecimento, personalidade e a busca pelo lugar no mundo. Tudo isso misturando toques de drama e pitadas de um humor sem muita graça. É como se o filme ainda não tivesse decidido o que gostará de ser quando crescer – como o seu protagonista.

(Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos - 2009)

Justin Bieber: Never Say Never (2011)


A mensagem do filme para seu público é “nunca desista de seus sonhos”, como o próprio Justin insistiu pelo twitter, como parte da campanha de lançamento. Ele próprio é a concretização de um sonho. Filho de uma mãe solteira que postava seus vídeos no Youtube, Justin foi descoberto pelo agente Scooter Braun, que o apresentou a Usher, a sensação do R&B, que o apadrinhou na gravadora Island Records, onde começou sua carreira profissional. A partir de então, deu-se a explosão que todos conhecem. Usher aparece em várias cenas do filme.

Entrecortam-se cenas pessoais e de bastidores com o garoto brilhando no palco e meninas histéricas na plateia. O pai do garoto, Jeremy Bieber, é uma espécie de figura decorativa, que aparece por alguns minutos, chora quando vê o filho no palco, e nunca mais se ouve falar dele. Na sua cidade natal, o menino joga basquete com seus colegas e reza antes de comer uma pizza. É o complemento para a mensagem de bom-mocismo que o cantor quer exalar por todos os poros.

(Justin Bieber: Never Say Never - 2011)

Luzes da Ribalta (1952)


Londres, 1914. Calvero (Charles Chaplin) é um velho comediante, que no passado fizera sucesso no vaudeville e music hall. Calvero foi esquecido e isto o deixou muito próximo de se tornar alcoólatra. Porém tudo muda quando, numa tarde, ao voltar para pensão onde vive, sente um estranho cheiro e constata que é gás, vindo de um dos quartos. Ele arromba a porta e acha inconsciente uma jovem, Thereza Ambrose (Claire Bloom). Calvero chama um médico e ambos a carregam para o seu apartamento, que fica dois andares acima. Quando ela desperta, Calvero lhe pergunta por qual razão quis cometer suicídio. Theresa lhe explica que sempre sonhou ser uma grande bailarina, mas agora suas pernas estão paralisadas. Calvero promete fazer tudo para ajudá-la, mas o que ele não imagina é que, em pouco tempo, Theresa fará tudo para ajudá-lo.

Vencedor do Oscar de Melhor Trilha Sonora.

(Limelight - 1952)

O Primeiro Amor (2010)


Juli (Madeline Carroll) e Bryce (Callan McAuliffe) se conheceram aos sete anos de idade. Ela sempre admirou o menino, mas ele achava a vizinha meio estranha. Aos 13 tudo muda e ele começa a se apaixonar pela menina. Juntos, eles compartilharam diversas experiências amorosas, como o famoso primeiro beijo, que faz parte da vida de todo adolescente.

(Flipped - 2010)

O Lobisomem (2010)


O filme começa com a morte de Ben, irmão de Lawrence (Del Toro) e filho de John Talbot (Hopkins). O corpo do rapaz é encontrado com marcas causadas por alguma criatura estranha. Após algumas investigações, Lawrence vai parar num acampamento cigano, onde recebe conselhos de uma idosa, vivida por Geraldine. Ela é a única que conhece a fundo a lenda dos lobisomens e sabe o que pode detê-los.

No entanto, num ataque de uma dessas criaturas, Lawrence é mordido e também recebe a maldição. Não demora muito para que todo o vilarejo, no interior da Inglaterra, onde mora, comece a persegui-lo. “Eu não acho que eles vão te matar, mas vão te culpar”, decreta o pai ao filho, com quem nunca, aliás, teve uma relação muito boa.

Os problemas da família Talbot datam do passado, quando a mãe se matou e Lawrence, ainda criança, viu seu corpo coberto de sangue. Desde então, por conta de seus sérios problemas emocionais, o pai internou o filho num manicômio. Ainda assim, ele aparentemente se recuperou, tornando-se um ator de sucesso.

Lawrence só volta para casa depois de adulto, quando a noiva de Ben, Gwen (Emily Blunt), escreve pedindo ajuda, pois o noivo desapareceu. Quando o ator chega em casa, descobre que o corpo foi encontrado. Apesar do luto, não demora muito para Gwen se interessar pelo ex-futuro cunhado e, mesmo com a maldição que pesa sobre ele, não descartar um envolvimento amoroso.

É com essa história pueril, com efeitos especiais desleixados e cenas risíveis que segue o filme dirigido por Joe Johnston. O clima sempre soturno e os cenários artificiais procuram criar um clima de conto gótico de terror. Mas a mão pesada do diretor, a falta de qualquer tipo de humor e a canastrice do prejudicam a possibilidade de diversão.

Como o personagem-título, que esconde sua verdadeira natureza por baixo da aparência de humano normal, o filme é um trash travestido de grande produção. Quando a verdade emerge, pode ser fatal para ambos.

Vencedor do Oscar de Maquiagem.

(The Wolfman - 2010)

Tron: O Legado (2010)


Cansado de receber avisos do tipo “esse programa executou uma operação ilegal e será fechado”? Pode se dar por satisfeito que o programa apenas se conclui quando trava, porque no universo do filme “Tron – O Legado”, os programas de computador exterminam os usuários quando estão revoltados – o que acontece quase sempre.

Com um visual retrô-futurista, “Tron – O Legado” é, ao mesmo tempo, um olhar para o futuro, mas com olhos da década de 1980, quando virtualidade real era algo distante, meio onírico e quase inacessível. Hoje, duas décadas depois, o mundo e a tecnologia são outros. Por isso, o filme soa tão antiquado, mas, ainda assim, um tanto divertido.

Retomando os temas e personagens de “Tron – Uma Odisseia Eletrônica” (1982), o novo longa vale-se de efeitos especiais mais caprichados e sabe ter um público mais adepto desse tipo de extravagância: um videogame de duas horas na tela grande, que atira temas supostamente sérios, supostamente filosóficos, para todos os lados, mas se afoga, paradoxalmente, em sua profundidade de pires. Quando quer ser sério, “Tron – O Legado” é chato. Quando quer ser apenas meio ficção científica, meio filme de ação, consegue ser bem divertido.

O protagonista é o filho de Kevin Flynn (Jeff Bridges), engenheiro de software que desapareceu há 20 anos. Seu filho, Sam (Garrett Hedlund), tem o controle de sua empresa milionária, mas nunca comparece lá, deixando o controle nas mãos de outras pessoas. O que o atormenta é o desaparecimento do pai. E, quando ele entra – literalmente – dentro do computador de Kevin, o rapaz descobre um mundo diferente e perigoso.

Nesse ambiente virtual, os programas ganham forma humana, duelam com pessoas, matam usuários e aspiram a viver no mundo real. Os duelos lembram dois gladiadores combatendo, com direito a público e a morte do perdedor. Sam é jogado direto numa batalha e precisa lutar por sua vida. Discos que humanos e não humanos carregam em suas costas são armas.

Ao centro de “Tron: O Legado” está o sonho secreto do nerd que existe em cada um: viver num mundo dentro do videogame, onde é possível ter poderes. Kevin vivia essa realidade, mas esse seu mundo tão perfeito o aprisionou. Uma criatura que ele inventou chamada Clu – interpretada pelo próprio Bridges, rejuvenescido por efeitos especiais – o trancou dentro de seu computador, onde cada um deles é a personificação do bem e do mal.

Clu aspira cada vez mais poder e conta com uma legião que o segue e protege. Kevin prefere meditar na companhia de Quorra (Olivia Wilde) – uma personagem que se revelará importante mais tarde. A Sam restam dois desejos: reconectar-se com o pai desaparecido e voltar para o mundo real. Em tese, esta seria a força dramática da história de “Tron – O Legado”. Mas se há uma coisa que falta no filme é dramaticidade.

Indicado ao Oscar de Edição de Som.

(TRON: Legacy - 2010)

Núpcias de Escândalo (1940)


A adaptação de 1940 de George Cukor da farsa teatral de Philip Barry é o clássico incontestável de todas as comédias pastelão sofisticadas. Katherine Hepburn estrelou a peça na Broadway e diz-se que o dramaturgo Philip Barry baseou a protagonista na sua reputação à época. Depois de ela ter deixado a RKO não exatamente em bons termos, o público via Hepburn como mandona e masculinizada, certamente longe do ideal feminino do fim da década de 30.

Na cena de abertura, agora famosa por sua fúria praticamente sem diálogos, a herdeira Tracy Lord (Hepburn) observa seu recém-divorciado marido playboy Dexter Haven (Cary Grant) colocar alguns dos seus pertences no carro e bater com o taco de golfe em sua coxa de raiva. Numa tentativa de provar que ela não é impossível de se amar, Tracy planeja se casar com um homem respeitável embora insosso, na mansão da família, quando Dexter volta com dois repórteres a reboque, Mike Connor (James Stuart) e Liz Imbrie (Ruth Hussey), especificamente para arruinar o casamento. Mais radiante do que nunca Hepburn se supera em um papel que exige um timing cômico impecável, assim como vulnerabilidade genuína. Suas cenas com Stewart no jardim à noite, antes do seu fatídico casamento, capturam a essência da atração impetuosa que eles sentem um pelo outro.

Hepburn foi a responsável por “Núpcias de Escândalo” ser como é. Ela detinha os direitos do projeto, que não vendeu sabiamente para a MGM sob a condição de que repetisse o papel principal e pudesse escolher o diretor e o elenco. Ela queria Clark Gable como Dexter e Spencer Tracy como Mike, porém, por problemas de agenda, nenhum dos dois estava disponível. No lugar deles foram escalados Grant, que já havia sido seu parceiro nas telas em três ocasiões anteriores, e Stewart. O diretor George Cukor conseguiu fazer a imagem pública negativa de Hepburn funcionar a seu favor através da personagem, suscitando compaixão por uma mulher tão bonita e tão incompreendida. O filme foi um enorme sucesso, com um roteiro ganhador do Oscar que misturava comédia com crítica social. Em 1956, a peça foi refilmada, com o acréscimo de números musicais, como “Alta Sociedade”.

Vencedor do Oscar de Melhor Ator (James Stewart) e Roteiro. Indicado ao Oscar de Melhor Filme, Atriz (Katharine Hepburn), Atriz Coadjuvante (Ruth Hussey) e Diretor (George Cukor).

(The Philadelphia Story - 1940)

Meu Pé Esquerdo (1989)


Apesar do forte potencial para depressão sentimentalista, “Meu Pé Esquerdo” acabou sendo uma celebração surpreendentemente divertida, natural e enriquecedora sobre o irlandês Christy Brown, que nasceu aprisionado em um corpo tornado inválido por paralisia cerebral mas acabou atingindo reconhecimento e respeito como artista e escritor. O conceito de um homem deficiente com a história ficcional de “Rain Man”, mas “Meu Pé Esquerdo” é tão bom quanto ele em todos os aspectos, a começar pelo desempenho do ator principal. Daniel Day-Lewis está arrebatador em um papel tão distante quanto possível de seu esteta afetado em “Uma Janela Para o Amor” ou do gay oportunista de “Minha Adorável Lavanderia”. Brenda está radiante como a mãe devotada e preocupada de Christy. Ray McAnally, que infelizmente morreu antes que o filme fosse lançado, fez seu último papel como o pai imprevisível e alcoólatra do rapaz. E o jovem Hugh O’Conor, fazendo o papel do jovem Christy, transmite a cruel frustração de uma criança brilhante, que todos pensam ser burra, tentando comunicar-se com sua família.

O diretor estreante Jim Sheridan e Shane Connaughton, co-roteirista, não se esquivam da tragédia e da raiva na vida de Christy, um espírito sagaz confinado à cadeira de rodas e submetido a humilhações diárias. A impressão geral desse homem, contudo, nos deixa um admirável sentido do milagre da vida e da formidável energia de Christy. Isso é ressaltado pela qualidade mágica infundida nos menores incidentes, como o fascínio demonstrado pelo personagem, ainda criança, quando é levado pelos irmãos e irmãs ás brincadeiras de Halloween pelas ruas.

O famoso pé esquerdo, a única parte do corpo que ele podia controlar, é central em diversas piadas, bem como em episódios dramátidos: Christy salva a vida de sua mãe, faz gols, pinta, derruba um adversário em uma briga de bar, tenta o suicídio, assenta tijolos e digita sua autobiografia, tudo isso com o pé esquerdo. Day-Lewis acabou sendo vencedor de um Oscar que não lhe poderia ser negado.tendo dominado as dificuldades físicas de lidar com um corpo tão tortuoso e com a fala defeituosa, ele nos dá o retrato de um homem cuja perspicácia lhe traz pouco alívio, mas cujo humor, desejo sexual e total teimosia iluminam aquilo que poderia ter sido apenas angustiante.

Vencedor do Oscar de Melhor Ator (Daniel Day-Lewis) e Atriz Coadjuvante (Brenda Fricker). Indicado ao Oscar nas categorias: Melhor Filme, Diretor (Jim Sheridan) e Roteiro Adaptado.

(My Left Foot: The Story of Christy Brown - 1989)

Tempos Modernos (1936)


“Tempos Modernos” foi o último filme em que Charles Chaplin fez o papel de Carlitos, personagem que ele criara em 1914 e que lhe trouxe fama e carinho universais. Nesse meio-tempo, o mundo havia mudado. Quando Carlitos nasceu, o século XIX ainda estava próximo. Em 1936, com o mundo ainda sob os efeitos da Depressão, ele confrontou as ansiedades que não diferem tanto daquelas do século XXI: pobreza, desemprego, greves e fura-greves, intolerância política, desigualdade econômica, a tirania das máquinas e os narcóticos.

Esses eram os problemas que passaram a preocupar de fato Charles Chaplin no decorrer de sua turnê mundial de 18 meses de duração em 1931-1932, período em que observou a automação. Em 1931, ele declarou numa entrevista a um jornal: “O desemprego é a principal questão... as máquinas devem beneficiar a humanidade, e não causar tragédias e tirar dela o trabalho.”

Explorando essas questões sob o foco da comédia, Chaplin transforma Carlitos em um dos milhões de peões de fábrica espalhados pelo mundo. Ele primeiro surge como um operário enlouquecido por seu trabalho monótono e desumano na esteira de uma linha de produção e sendo usado como cobaia de uma máquina para alimentar os trabalhadores enquanto eles exercem suas funções. Casualmente, Carlitos encontra um companheiro na sua batalha nesse novo mundo: uma jovem (Paulette Goddard) cujo pai foi morto em uma greve e que se une a Chaplin. Os dois não são rebeldes nem vítimas, escreveu Chaplin, mas “apenas duas almas vivas em um mundo de autômatos”.

Na época do lançamento de “Tempos Modernos”, os filmes falados já existiam havia quase uma década. Chaplin cogitou usar diálogos e chegou até a preparar um roteiro, mas reconheceu, no fim das contas, que Carlitos dependia da pantomima do cinema mudo. Em um momento, no entanto, sua voz é ouvida, quando, ao ser contratado como garçom cantante, ele improvisa uma canção em uma maravilhosa embromação de italiano.

Concebido em quatro “atos” – cada qual equivalente a uma de suas antigas comédias de dois rolos -, “Tempos Modernos” mostra Chaplin ainda em seu ápice, imbatível como criador de comédias visuais. O filme resiste, no mínimo, como um olhar sobre a sobrevivência humana nas circunstâncias industriais, econômicas e sociais do século XX – e, talvez, do século XXI.

(Modern Times - 1936)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A Minha Versão do Amor (2010)


O ator Paul Giamatti impregna seu personagem, Barney Panofsky, de tanta verdade que se tem permanentemente a impressão de estar assistindo a uma cinebiografia calcada em fatos reais em “A Minha Versão do Amor”. Mérito desse ator extraordinário, que dá uma vida plena ao protagonista da versão cinematográfica do romance do canadense Mordecai Richler.

Barney não é uma figura simples de entender, nem fácil de gostar. Produtor de TV tresloucado, boêmio e um tanto chegado à bebida e às mulheres, ele leva sua vida como um turbilhão permanente. Jovem, casou-se em Roma com Clara (Rachelle Lefevre), vivendo a batida dos loucos anos 60, com muito sexo, drogas e rock’n roll.
Nada disso dura e eis Barney caminhando para um segundo casamento, com uma mulher judia como ele, convenientemente educada e rica (Minnie Driver). O choque cultural não é tanto entre o noivo e os sogros esnobes (Harvey Atkin e Linda Sorenson), mas entre estes e o pai de Barney – o policial Izzy (Dustin Hoffman), um sujeito simplório, cafona e sem noção, capaz de contar-lhes piadas sujas em plena festa de casamento.

Justamente a festa vai ser a perdição de Barney, que se apaixona ali mesmo, irresistivelmente, por uma convidada, a radialista Miriam (Rosamund Pike) – que vai ser a mulher de sua vida. Naquele momento, ainda nenhum dos dois sabe disso, mas as encrencas que se seguem temperam o romance de adoráveis incidentes e alguns desacertos.
A estrada de Barney fica bem mais tortuosa quando ele se torna suspeito do assassinato de seu melhor amigo, o farrista Boogie (Scott Speedman). Boogie sumiu justamente depois de uma longa noite de bebedeira na casa de fim de semana de Barney, diante de um grande e fundo lago.

Uma sábia decisão na condução da história guarda segredo sobre o real destino de Boogie até o final. Até ali, o espectador compartilha de todas as dúvidas possíveis sobre quem é, afinal, este Barney instável, capaz de lembrar-se ao final da vida de todos os seus erros, mas sem pretender ter evitado nenhum. Talvez um só. E ele tem a ver com Miriam.

Indicado ao Oscar de Maquiagem.

(Barney's Version - 2010)

As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada (2010)


Na “Viagem do Peregrino da Alvorada”, os irmãos Edmundo (Skandar Keynes) e Lucy (Georgie Henley), junto com seu primo Eustáquio (Will Poulter), caem dentro de um quadro e vão parar novamente na terra encantada.

Se, por um lado, Edmundo e Lúcia conhecem bem as coisas estranhas de Nárnia, seu primo reclamão tem medo ou aversão às criaturas exóticas, como o rato Ripchip, um destemido espadachim, experiente em muitas aventuras. Quando se reencontram com o Rei Cáspian (Ben Barnes), os garotos ficam sabendo que ele viaja para o leste em busca dos sete Lordes de Telmar, que estão perdidos.

Os irmãos de Edmundo e Lúcia, Pedro (William Moseley), Susana (Anna Popplewell), cresceram e, por isso, não podem voltar a Nárnia. Aos poucos, inclusive Eustáquio vai ganhando importância na trama, até porque é o único jovem o bastante para voltar novamente ao lugar encantado, se necessário.

Cáspian e seus amigos precisam encontrar os sete lordes para evitar que uma névoa verde e maligna capture o corpo e a mente das pessoas. Os nobres possuem espadas que lhes foram dadas pelo leão Aslam. Por isso, têm poderes especiais - a união delas poderá derrotar o inimigo. Até cumprir suas tarefas, o grupo passará por tentações e terá de enfrentar perigos.

(The Chronicles of Narnia: The Voyage of the Dawn Treader - 2010)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Água para Elefantes (2011)


Em “Água Para Elefantes” tudo é arrumadinho. Tanto nas imagens, quanto na narrativa, não há uma vírgula fora do lugar. Seus personagens são rasos, estão mais para tipos do que seres humanos e a história de amor é previsível e monótona. Por isso, sobra para uma elefanta gigantesca, Rosie, brilhar em cena. E ela consegue.

A história é contada por Jacob (Robert Pattinson), décadas após de ter abandonado a escola de medicina veterinária depois da morte dos pais, juntando-se a um circo itinerante. Ao chegar ao circo, Jacob ganha a confiança do dono, August (Christopher Waltz), mas também se apaixona pela mulher dele, Marlena (Reese Whiterspoon), a grande estrela dos espetáculos, uma amazona cujo maior talento é montar seu cavalo sem sela.

A trama passa-se na época da Grande Depressão, o que garante uma direção de arte atrativa, assinada pelo veterano Jack Fisk, que foi capaz de criar um circo, cujo colorido e brilho nem sempre escondem a melancolia dos tempos de dificuldade financeira. Nada disso consegue compensar os acontecimentos mal explicados do filme – como seu clímax envolvendo uma fuga em massa.

(Water for Elephants - 2011)

Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora é Outro (2010)


A controvérsia do segundo filme segue de carona naquela causada pelo primeiro que, em 2008, levou o Urso de Ouro em Berlim - questionando o papel do governo, da miséria e do tráfico na violência no Rio de Janeiro e no Brasil. Não por acaso, numa das cenas em que os personagens vão ao cinema, todos os filmes em cartaz são de Costa-Gavras, presidente daquele júri de Berlim que consagrou Padilha.

O filme abre com um letreiro alertando o espectador que, “apesar das possíveis coincidências com a realidade, esta é uma obra de ficção”. Um toque de cinismo que parece dissolver-se ao longo das duas horas de boa e velha ultraviolência – que em momentos catárticos, com jorros de sangue e profusão de cadáveres, parece materializar um desejo latente de parte da plateia.

Nascimento (Wagner Moura) já não usa mais a farda preta do BOPE. Sua roupa de trabalho em “Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro” passa a ser o terno e a gravata, quando é promovido ao posto de sub-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, numa manobra do governo populista.

Como no filme original, uma narração em off reitera e explica tudo aquilo que é visto, num didatismo maçante, como se o diretor José Padilha não acreditasse apenas nas imagens e precisasse verbalizar a ação para que tudo fique bem claro. Especialmente nas primeiras cenas, quando introduz o ativista Diogo Fraga (Irandhir Santos), apresentado como um intelectual de esquerda, adorado pelos consumidores de maconha.

A grande ironia é que a ex-mulher de Nascimento, vivida por Maria Ribeiro, é casada com Fraga – uma pessoa diametralmente oposta a Nascimento, que foi promovido a coronel. Mathias (André Ramiro), preparado por Nascimento para substituí-lo, traz a ideologia do BOPE nas veias. Ele ignora a hierarquia, o que acaba causando um massacre em Bangu, dando início à trama do filme.

As trajetórias de Nascimento e Fraga caminham para um encontro. Poderia ser a humanização do primeiro e o endurecimento do segundo. No entanto, o ativista, que logo é eleito deputado, sempre é tratado como um fraco diante das atitudes extremadas do coronel que, às vezes, lembra Rambo.

Nascimento tenta não se curvar ao jogo político do governador e dos deputados que o usam como marionete. Mas seus métodos, eficientes apesar de questionáveis, lhe dão notoriedade e legitimidade. “Se o eleitor estava dizendo que eu era heroi, não ia ser o governador que ia dizer o contrário”, diz. Entram em cena, também, milícias criadas e sustentadas por policiais corruptos, que operam um esquema de segurança informal, tomando o lugar dos traficantes à custa de muito medo.

Tudo isso é usado numa eleição, envolvendo governador e deputados. Parece sintomático, embora o diretor alegue que seja apenas uma coincidência a chegada do filme aos cinemas depois da reeleição de alguns governadores e às vésperas do segundo turno.

Uma nota de desesperança permeia todo o filme e se concretiza no final, quando parece não haver solução para o país. “No Brasil, eleição é negócio e o voto é a mercadoria mais valiosa da favela”, diz o ex-membro do BOPE. Nascimento descobre isso a duras penas, ao perceber que algumas instituições em que acreditava são passíveis de corrupção. A ele não resta muita opção se quiser mudar o país. Qual o próximo passo do coronel Nascimento? Tentar a Presidência?

(Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora é Outro - 2010)