sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Lembranças (2010)


Pequenas tragédias pessoais e familiares são redimensionadas diante de uma tragédia maior de um momento histórico no drama romântico “Lembranças”. Basta saber a história é situada em Nova York, deduzir as breves menções ao tempo (férias de verão, Dia do trabalho – nos EUA celebrado na primeira segunda-feira de setembro) para saber quando será o clímax desse romance açucarado, protagonizado por Robert Pattinson, mas conhecido como o vampiro da série “Crepúsculo”.

Nesse filme, Pattinson esforça-se para interpretar um galã à la James Dean. O esforço não é apenas físico – com o cabelo desgrenhado, fumando incessantemente, roupas mal arrumadas e emocionalmente confuso –, como também no tipo de personagem. Como Dean em “Juventude Transviada” (1955) e “Vidas Amargas” (1955), o protagonista aqui, Tyler, tem problemas de relacionamento com o pai, o advogado figurão Charles, interpretado pelo ex-James Bond, Pierce Brosnan.

O romance entre Tyler e Ally (Emilie de Ravin, da série Lost) começa como uma aposta. O amigo dele o desafia a conquistar a filha do policial que os prendeu depois de uma briga de rua. O rapaz aceita a aposta, ganha o coração da garota, para só mais tarde também sucumbir aos encantos da menina e se descobrir apaixonado.

O amor, que poderia redimir Tyler, transformando-o numa pessoa mais compreensiva e menos egoísta, no entanto, não ajuda em nada nos problemas com o pai negligente, que se divorciou da mãe (Lena Olin) e não dá atenção para a filha caçula Caroline (Ruby Jerins), uma artista precoce e sem amigas na escola.

A pessoa a quem Tyler mais protege é Caroline. Ele fica mais decepcionado do que ela quando seu pai não pode ir à abertura da exposição de obras da garota. Mais uma briga entre Charles e o filho explode e traz à tona um lado meio ‘emo’ do protagonista, para quem sofrer parece ser o único prazer disponível.

Ally também tem suas dores do passado. Em 1991, dez anos antes de ela conhecer Tyler, sua mãe foi assassinada numa plataforma do metrô na frente dela, o que a traumatizou e gerou problemas com um pai excessivamente zeloso, o policial Craig (Chris Cooper, de Nova York, eu te amo). Já o trauma do passado do rapaz, além da negligência do pai, envolve o suicídio de um irmão aos 22 anos. Agora, Tyler está a poucos dias de completar essa mesma idade.

Dirigido por Allen Coulter (Hollywoodland – Bastidores da Fama), a partir de um roteiro do estreante Will Fetters, “Lembranças” não mede esforços para agradar à legião de fãs do protagonista de “Crepúsculo” – em sua maioria, adolescentes do sexo feminino. Por isso, exagera nos closes de Pattinson, com olhares apaixonados e/ou perdidos ao longe, frases melosas (“Nossas digitais não se apagam das vidas em que tocamos”), e, tentando copiar as lágrimas de “Titanic”, prepara um final supostamente emocionante.

O romance entre Ally e Tyler, no entanto, nunca ganha a profundidade que poderia ter. Os dois personagens são duas almas feridas e desesperadas em busca de algo que alivie a dor e os afaste de uma nova tragédia. O que eles percebem, porém, é que algumas forças são impossíveis de controlar. A lição do filme é que a vida é curta e praticamente faz pouca diferença para o mundo, mas, ainda assim, devemos vivê-la plenamente. O casal se esforça para fazer valer essa máxima, mas, infelizmente, “Lembranças” está mais interessado em mostrar sua surpresa final do que construir personagens e uma trama mais consistente.

(Remember Me - 2010)

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