quinta-feira, 7 de julho de 2011

Hannah e Suas Irmãs (1986)


O último e mais abrangente longa-metragem de uma primorosa série de filmes de Woody Allen que começou com "Sonhos Eróticos de Uma Noite de Verão", este filme, talvez inspirado em Bergman, mas com tonalidades que lembram Renoir, revela a influência dos dois mestres sobre Allen ao traçar as mudanças em vários relacionamentos complicados durante o espaço de um ano. Centrado, como alguns de seus outros filmes, na parte artística e privilegiada de Manhattan, o filme focaliza três irmãs (Mia Farrow, Barbara Hershey e Dianne Wiest), os parceiros das duas primeiras (Michael Caine e Max von Sydow), o ex-marido da primeira (Allen) e alguns amigos e colegas que entram em cena para complicar a ciranda romântica. O próprio Allen está menos à frente do que de hábito e sua neurose hipocondríaca habitual consome menos tempo e empatia do que Caine, que deixa de lado sua fidelidade a Farrow por conta de uma paixonite pela Hershey mais nova. Na verdade, um dos prazeres do filme é a maneira como Allen lida com o escopo da narrativa, maior do que o tradicional. Os personagens são, no mínimo, mais bem acabados do que os anteriores, mesmo quando a abrangência ampliada nos dá um sentido de um mundo maior que é externo ao outro mundo, o que constitui o núcleo ficcional do filme.

Em muitos aspectos, é claro, são as mesmas velhas situações, tipos, até mesmo as piadas antigas, e apesar disso há algo de Checov no filme: a delicada tristeza de vários dos dilemas emocionais, a consciência da dor muito real subjacente às piadas, o amargo e inevitável fato de a morte pairar subentendida no ar o tempo todo, enquanto Woody, o bobo da corte ansioso, encara questões médicas. As piadas não são apenas tiradas espirituosas, mas totalmente plausiveis em termos de personagens e enredo, fazendo justiça a um dos melhores elencos que Allen já reuniu. Ao contrário de outros filmes, sente-se em "Hannah e Suas Irmãs" um sincero tributo às boas coisas que quase fazem com que a vida valha a pena, ao invés da percepção de que a sensação foi forçada (embora Allen houvesse, de fato, chegado a pensar em um final mais sombrio). Um filme "de bem com a vida", no melhor sentido da expressão.

Vencedor de 3 Oscar: Ator Coadjuvante (Michael Caine), Atriz Coadjuvante (Dianne Wiest) e Roteiro Original.

Indicado nas categorias: Melhor Filme, Direção, Edição e Direção de Arte.

(Hannah and Her Sisters - 1986)

Nenhum comentário:

Postar um comentário