terça-feira, 30 de agosto de 2011

Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de me Preocupar e Amar a Bomba (1964)

"Cavalheiros, não podem brigar aqui! É a Sala de Guerra." "Dr. Fantástico" é uma brilhante comédia de humor negro que funciona como sátira política, suspense farsesco e história exemplar sobre os riscos da tecnologia para os Estados Unidos. Quando um fanático general americano desfecha um ataque nuclear contra a União Soviética, o presidente tem muito o que fazer. Precisa chamar de volta seus bombardeiros e acalmar os russos enquanto se digladia com seus conselheiros e um cientista pervertido. A trama de suspense veio de um livro séri, escrito por um oficial da Força Aérea Britânica, Peter George, publicado nos Estados Unidos sob o nome de Red Alert e na Inglaterra como Two Hours to Doom. Kubrick adorou a história, mas achou que as pessoas andavam tão impressionadas com a ameaça de aniquilação que, em processo de negação, ficariam apáticas a um documentário ou drama sobre a questão nuclear. Ele surpreenderia a plateia ao tornar a perspectiva concreta de exterminação global em alguma coisa engraçada e provocante, contada com tática de história em quadrinhos.

Kubrick e o co-roteirista Terry Southern criaram personagens grotescos cujas fixações absurdas e improváveis contrabalançam o realismo da situação (que também é acentuado pela notável fotografia em preto-e-branco de Gilbert Taylor). A informação sobre um mecanismo capaz de provocar o apocalipse é real, como também são as operações do Comando Aéreo Estratégico e os procedimentos adotados pelos tripulantes do B-52. Os computadores que levam a situação para fora do controle humano só se tornaram mais poderosos. Tenha medo. Tenha muito medo.

A ação transcorre em três pontos diferentes, todos experimentando dificuldades de comunicação. Na base aérea de Burpelson está o maníaco general Jack D. Ripper (Sterling Hayden), obcecado com fluidos corporais e conspirações comunistas. Ele subverte os protocolos de segurança e envia um avião para bombardear os "vermelhos" com um artefato nuclear. Ao mesmo tempo, aprisiona o atônito oficial da Força Aérea Britânica Lionel Mandrake (Peter Sellers). No B-52 de codinome "Colônia de Leprosos", o determinado major T.J. "King" Kong (Slim Pickens) e sua tripulação (que inclui James Earl Jones em sua estreia) sofrem de dificuldades com a radiocomunicação e ignoram os esforços frenéticos para que voltem à base. Na Sala de Guerra, no Pentágono - um incrível cenário de Ken Adams -, o presidente Merkin Muffley (Sellers) tenta interromper o Armagedom ao lado do descontrolado general Buck Turgidson (George C. Scott), do embaixador soviético Sadesky (Peter Bull) e do demente Dr. Fantástico (Sellers novamente, em uma homenagem de Kubrick a Rotwang, cientista maluco e fútil de "Metrópolis").

O hilariante desempenho de Sellers em papel triplo é legendário, mas todo o elenco dá uma aula em marcações exageradas e perfeitamente executadas. Duas imagens são inesquecíveis: Kong montando a bomba H, urrando enquanto despenca, e o enlouquecido Dr. Fantástico, incapaz de impedir seu braço mecânico de fazer a saudação nazista e finalmente se esganando. Rever este filme é ter a chance de constatar que ele está recheado de diálogos impagáveis. O presidente Muffley falando ao telefone com o primeiro-ministro soviético que um de seus comandantes "foi e fez uma besteira" é um clássico entre os monólogos. Kubrick retornaria ao tema da ameaça em potencial representada pela dependência para com os computadores em "2001: Uma Odisséia no Espaço", à questão da violência política e institucional em "Laranja Mecânica" e à selvageria surreal da guerra em "Full Metal Jacket". Mas nunca voltou a fazer suas plateias rirem tanto.

Indicado a 4 Oscar: Melhor Filme, Melhor Ator (Peter Sellers), Melhor Diretor (Stanley Kubrick) e Roteiro Adaptado.

(Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb - 1964)

Nenhum comentário:

Postar um comentário