terça-feira, 15 de abril de 2014

Passagem para a Índia (1984)


Em seu último filme, David Lean continua obcecado por trabalhar com grandes quadros em planos abertos que definiriam "Lawrence da Arábia", "A Ponte do Rio Kwai" e "Doutor Jivago", mas "Passagem para a Índia" é mais centrado em ideias do que no visual espetacular. Adaptando de maneira relativamente fiel a história de E.M. Foster sobre o conflito de classes e culturas na Índia colonial, o filme necessariamente perde um pouco da força das várias perspectivas simultâneas do livro, e portanto perde algo da nuança das várias motivações de seus personagens. Adicionalmente, "Passagem para a Índia" às vezes se parece mais com uma história de mistério e vaga histeria sexual do que com um adeus mordaz ao colonialismo inglês. Mas, nas mãos de Lean, sempre um artesão bem-sucedido, o filme resplandece e, mesmo que ele dependa demais de seu colaborador frequente Alec Guiness (atuando no papel de um indiano) para criar um pouco de humor e de James Fox para evidenciar os temas do filme, o respeito de Lean pelo roteiro e seus atores permite a estes transcender o retrato por vezes fetichista da Índia.

A pálida Judy Davis é particularmente forte e, em sua busca pela Índia "real" - não homogeneizada nem ocultada por seus compatriotas ingleses -, encontra mais do que havia pedido na figura de Victor Banerjee, cujo obsequioso e distraído personagem Dr. Aziz atiça na mente da ingênua Miss Quested de Davis uma aversão primal por "fazer como os nativos". Conforme o calor incessante, a claustrofobia e os macacos barulhentos esgotam o entusiasmo banal de Quested, ela se torna cada vez mais instável, o que leva a um encontro nas cavernas cheias de eco de Marabar que resulta em Azis ser acusado de estupro.

Se a colisão de psicologia e colonialismo de Forster é mostrada quase como uma reflexão tardia, o desdém do filme pela condescendência inglesa termina conferindo ao julgamento do Dr. Azis uma inevitabilidade irônica. "Passagem para a Índia" termina com um tom apropriado e satisfatoriamente ambivalente que sugere que alguns dos personagens centrais do filme ainda não aprenderam a lição. Não é uma conclusão forte ou provocante como poderia (ou deveria) ter sido, mas ainda assim o filme é uma grande realização e uma conclusão digna para uma carreira ilustre.

Vencedor do Oscar de Atriz Coadjuvante (Peggy Ashcroft) e Trilha Sonora Original. Nomeado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz (Judy Davis), Diretor (David Lean), Roteiro Adaptado, Fotografia, Direção de Arte, Figurino, Som e Edição.

(A Passage to India - 1984)

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