domingo, 31 de agosto de 2014

Janela Indiscreta (1954)


Em meus registros consta que eu já tinha visto "Janela Indiscreta" apesar de que eu não me recordava disto. Assisti o filme e enquanto o assistia, em nenhum momento tive a sensação de tê-lo visto. Acho que me equivoquei ao registrar "Janela Indiscreta", ou então estou muito ruim de memória, por ter apagado completamente da memória esta obra hitchcockiana.

Continuarei esta postagens com as palavras do livro "1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer"...

A apoteose de todas as fixações psicossexuais ardentes e mal reprimidas de Hitchcock, "Janela Indiscreta" é também provavelmente (com a possível exceção de "Um Corpo que Cai", de 1958) a mais bem-sucedida mistura de entretenimento, intriga e psicologia da extraordinária carreira do diretor. Um estudo fascinante sobre a obsessão e o voyeurismo, "Janela Indiscreta" combina um elenco perfeito, um roteiro perfeito e principalmente um cenário perfeito para um filme - que é ainda melhor do que a soma de suas partes.

Para ter o máximo de liberdade, Hitchcock construiu uma complexa réplica de um prédio de apartamentos abarrotado de pessoas e em constante agitação com seu pátio igualmente movimentado. Cada janela dá vista para uma outra vida e, para todos os efeitos, conta outra história. Em uma, um compositor se debruça sobre seu piano, lutando com sua obra mais recente. Em outra, um dançarino treina compulsivamente. Um apartamento abriga uma mulher solitária, mal-sucedida no amor, enquanto outro abriga um apaixonado casal recém-casado.

L. B. "Jeff" Jeffries (James Stewart) é um fotógrafo de sucesso afastado do trabalho por conta de uma perna quebrada. Preso a uma cadeira de rodas o dia todo, não tem nada melhor para fazer do que espiar seus vizinhos. Ou pelo menos é o que ele afirma, pois sua namorada (e aspirante a esposa), a modelo profissional Lisa (interpretada por uma surpreendentemente sensual Grace Kelly, em um de seus últimos papéis antes da aposentadoria), e sua enfermeira rabugenta Stella (Thelma Ritter) observam com perspicácia que ele está apenas viciado na emoção do voyeurismo.

A ideia de que alguém conseguiria desgrudar os olhos de uma personagem tão bela e radiante quanto Lisa é difícil de acreditar, até que Jeff começa a suspeitar que um de seus vizinhos (um carrancudo Raymond Burr) assassinou a esposa. Logo Jeff arrasta Lisa e Stella para o mistério, estudando obsessivamente o comportamento do personagem de Burr em busca de sinais de culpa. Contudo, à medida que a investigação furtiva de Jeff avança, o mesmo acontece com histórias de todos os seus outros vizinhos, que ignoram a trama abominável que possivelmente se desenrola literalmente na porta ao lado.

"Janela Indiscreta" é construído de forma tão minunciosa quanto seu complexo cenário. Assisti-lo é como observar um ecossistema vivo, pulsante, com a emoção adicional de um misterioso assassinato para completar. Hitchcock se diverte com o cenário particularmente pós-moderno do filme: nós, os espectadores, somos hipnotizados pelas ações dos personagens, que, por sua vez, estão hipnotizados pelas ações de outros personagens. É um circulo vicioso de obsessão arrematado com humor negro e um toque de sensualidade.

De fato, embora o abelhudo Jeff possa descobrir um assassino no seu vilarejo urbano, são os vários romances que ocorrem nos outros apartamentos que chamam inicialmente sua atenção para o peep show do pátio. É uma perfeita ironia que suas obsessões pela vida amorosa dos vizinhos o impeçam de admitir seu interesse romântico em Lisa. Na verdade, o solteiro que existe em Jeff vê seus vizinhos como uma desculpa para repelir os avanços dela. Apenas quando suas atitudes a colocam em perigo ele finalmente percebe que o que tem diante de si é melhor do que qualquer coisa que possa ver pela janela.

Nomeado aos Oscar de Direção (Alfred Hitchcock), Roteiro, Fotografia e Som.

(Rear Window - 1954)

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