domingo, 18 de janeiro de 2015

Os Boxtrolls (2014)



"Os Boxtrolls" mistura stop motion com desenho à mão e computação gráfica. O espectador logo é apresentado ao trágico sumiço do bebê Trubshaw, que muda a história da cidade com ares vitorianos de Pontequeijo. Isso porque os Boxtrolls, pequenas criaturas envoltas por caixas que habitam o subterrâneo do lugarejo, são incriminados pelo sequestro da criança e perseguidos pelo terrível exterminador Arquibaldo Surrupião.

Ele impõe um toque de recolher à população durante a noite, momento em que os estranhos seres saem pelas ruas de paralelepípedos do local, remexendo lixos em busca de algo de interessante para suas inventivas criações. Assim, não tarda para que o público conheça melhor os Boxtrolls, que mais levam sustos do que os provocam nos outros, além de terem um quê de Minions, com direito à língua própria e fofura quase similar. Basta acompanhar o carinho com o qual eles, especialmente Peixe, cuidam do garoto chamado Ovo.

No entanto, quando a filha do Lorde Roquefort, a jovem Winnie, descobre que um menino humano vive com os Boxtrolls, tão logo se revela os desejos por trás da investida de Surrupião: tudo o que ele quer é trocar o seu chapéu vermelho por um branco, igual ao do Lorde e, assim, sentar-se à mesa com os nobres para degustar queijo, mesmo que isso lhe faça mal.

É evidente que a trama não é um dos pontos fortes do filme, mas a história incita várias discussões sérias que, junto ao bom entretenimento, a tornam interessante para o público adulto também. Uma delas surge da própria criação do Ovo pelos Boxtrolls, na qual é implícita a mensagem de que uma família nem sempre obedece àquela formação clássica “mamãe + papai”, mas nem por isso será pior do que a tradicional.

A questão do preconceito é igualmente marcante, onde o pensamento predominante é de que “se não conheço, repudio, e assim transformo meu medo em repulsa”. Por isso, não é descabida uma possível interpretação de que Os Boxtrolls, com seu impecável design de produção, faria da fictícia cidade europeia de Pontequeijo uma representação de todo o continente no início do século XX, ao mostrar o genocídio das pequenas criaturas do título, executado por Surrupião e seus capangas.

Falando na equipe do vilão, fora o malvado Sr.Rude, a dupla formada pelo Sr. Picles e o Sr. Truta faz uma série de indagações existenciais e filosóficas durante a animação, especialmente sobre o bem e o mal a partir de suas próprias ações e, consequentemente, acerca da estrutura da trama em si. A metalinguagem vai além na cena exibida durante os créditos, que não apenas permite avaliar a dimensão do trabalho que é fazer um stop motion e faz homenagem aos profissionais da produção, mas menciona outro debate, até religioso, sobre o livre arbítrio.

No mais, o filme deixa clara à plateia a ideia de que é possível se superar, transformando sua própria natureza, mas que há condições de fazer algo mais: mudar o mundo à sua volta para fazê-lo se adaptar à sua realidade.

Nomeado ao Oscar de Melhor Filme em Animação.

(The Boxtrolls - 2014)

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