domingo, 31 de julho de 2016

Um Pouco de Caos (2014)


O ator inglês Alan Rickman, que além de dirigir este filme, interpreta o Rei Sol Luis XIV, leva o espectador à construção dos jardins do palácio de Versalhes. Na lista de exigências do mais absolutista dos monarcas europeus de qualquer época, seus pedidos como “que o céu seja aqui” e “paraíso” atravessam como gelo a espinha do paisagista André Le Notre (Matthias Schoenaerts),

A vontade da vez do rei é um salão de baile com fonte de água ao ar livre, que precisa harmonizar com o restante do gigantesco jardim. Quadrado como um escriba (algo curioso para quem na vida real desenhou a Champs-Élysées, por exemplo), Le Notre procura alguém original para ajudá-lo na empreitada. Encontra o tal “toque de caos” na jardineira nada ortodoxa Sra. De Barra (Kate Winslet), viúva e independente em meio ao mundo de homens. Com fantasmas próprios bem guardados em um baú, ela se entrega ao trabalho e aos braços do mestre Le Notre.

Corretíssima do ponto de vista melodramático, a produção se ampara na ambientação (no belíssimo e inglês palácio Blenheim), ressaltada pela fotografia assinada por Ellen Kuras, e no trabalho polivalente de Winslet. Mas, no fim, a história e o próprio filme são apenas digestivos e nada mais do que convencionais.

Os deslizes não são necessariamente a falta de correspondência com a aristocracia francesa (esta que se vê é inglesa até o último chá, incluindo os figurinos reaproveitados da série de TV The Tudors), ou o embuste do trabalho de De Barra, que se mostra uma obra de engenharia, mais do que de jardinagem.

O que retira grande parte da força de ¨Um Pouco de Caos¨ é a falta de cuidado com os próprios personagens. Como um Le Notre apagado, com uma temerária e unidimensional atuação de Schoenaerts, o caricato irmão bissexual do rei (Stanley Tucci) e uma corte francesa, que afia as unhas para De Barra mas se mostra um grupo, praticamente, de auto-ajuda para senhoras arrasadas por perdas afetivas.

Com o orçamento micro, Rickman fez o que pôde, usando a criatividade de atores de teatro para adequar texto à produção. No entanto, usar sensibilidade moderna em drama de época não funciona nem em teatro conceitual de rua.

(A Little Chaos - 2014)

Nenhum comentário:

Postar um comentário