domingo, 5 de dezembro de 2010

Como Era Verde Meu Vale (1941)



Embora John Ford seja obviamente mais famoso por seus faroestes, ele também tinha uma predileção por tudo que envolvesse a Irlanda. Não que esta adaptação do romance de Richard Llewellyn tenha sido transportada pelo Mar da Irlanda de sua ambientação nos vales mineradores do País de Gales; em vez disso, o filme é imbuído do mesmo tipo de nostalgia das necessidades excêntricas da vida em família no Velho Continente que caracterizava “Depois do Vendaval”, de 1952. O País de Gales de Ford, na verdade, é tanto um país imaginário quanto o era sua amada Irlanda (pelo menos na maneira como é representada na tela ou invocada em palavras) isso explica porque a vila mineradora belamente projetada por Richard Day, mesmo com o excruciante nível de detalhe aplicado à sua construção nos terrenos da Fox, parece mais uma representação onírica de um arquétipo daquela região do que um vilarejo de verdade.

Isso, no entanto, combina perfeitamente com o clima de nostalgia que alimenta “Como Era Verde o Meu Vale” do início ao fim. A história é narrada por um homem que reflete sobre sua infância já longínqua, na qual, como o caçula da família Morgan, ele observava o pai e seus quatro irmãos subirem a pé diariamente a colina a trabalho, a ameaça da pobreza, o frio e a fome – e das mortes trágicas como também do senso de comunidade caloroso e terno que imperava nas vidas tanto da família quanto da vila como um todo. Contudo, essa unidade feliz se perdeu para sempre quando cortes salariais acarretaram greves e conflitos entre os patriarcas amáveis, porém tradicionais, e os filhos ligeiramente mais militantes, o que resultou na partida dos filhos para a Terra Prometida da América – onde mais? –, em busca de trabalhos mais bem remunerados.

O filme todo é permeado por recordações agridoces: da morte do pai, da inocência infantil, do país de origem e de um pai rígido, porém justo. Ford, sem dúvida, idealiza o mundo que retrata, entretanto, é isso que o torna tão eficaz. Sim, o filme é feito para arrancar lágrimas, repleto de clichês (os mineradores nunca param de cantar) e os sotaques são uma estranha mistura de todas as partes do Reino Unido e da Irlanda – mas os sonhos não são sempre assim?

Indicado aos Oscar de Atriz Coadjuvante (Sara Allgood), Edição, Música, Som e Roteiro. Vencedor nas categorias de Melhor Filme, Direção de Arte, Fotografia, Direção (John Ford) e Ator Coadjuvante (Donald Crisp).

(How Green Was My Valley - 1941)

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