terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Vinhas da Ira (1940)



Poucos filmes americanos da década de 1930 lidaram com o sofrimento e os transtornos da Depressão. Hollywood, em sua grande maioria, deixou que outras mídias, como o teatro, a literatura e a fotografia, documentassem o desastre nacional. O romance de John Steinbeck "As Vinhas da Ira", publicado em 1939, foi baseado em uma pesquisa rigorosa, em que o autor seguiu famílias agricultoras desalojadas de Oklahoma na sua jornada até as lavouras da Califórnia em busca de trabalho.

Apesar das objeções dos conservadores que controlavam o estúdio, Darryl Zanuck comprou os direitos do livro para a 20th Century Fox. Ele sabia que John Ford era o homem certo para dirigir o filme, com sua sensibilidade para com o povo americano e sua história. Ford também se identificava com o que há de mais doloroso no suplício da família Joad - não a pobreza aguda, mas o trauma psicológico de quem é arrancado do seu lar, jogado na estrada, desenraizado. Em uma cena memorável, a Mãe (Jane Darwell) queima os pertences que não pode levar consigo na noite anterior ao dia em que precisam abandonar a fazenda.

Para o papel do protagonista Tom Joad, Ford escalou Henry Fonda, que pouco tempo atrás havia estrelado "A Mocidade de Lincoln" (1939) e "Ao Rufar os Tambores" (1939), dois outros filmes sobre a história da América, também dirigidos por Ford. Dentre os outros membros da Sociedade Anônima John Ford presentes aqui estão Russell Simpson como o Pai, John Qualen como o amigo Muley e John Carradine como o pastor itinerante. E, para o posto de cinegrafista, Ford fez uma escolha inspirada. Gregg Toland capturou de forma brilhante o olhar documental das fotografias que haviam sido tiradas da tragédia por fotógrafos contratados pelo governo, como Dorothea Lange. Em nenhum momento isso fica mais patente do que na sequência em que a família Joad chega a um acampamento de sem-terra, com a câmera detendo-se nos rostos soturnos dos ocupantes e nos barracos caindo aos pedaços em que eles vivem.

Embora "As Vinhas da Ira" não deixe de mostrar a enormidade do sofrimento dos seus protagonistas, há uma importante divergência em relação ao livro. No romance de Steinbeck, a família a princípio encontra condições mais favoráveis em um acampamento do governo, porém, no fim, se vê reduzida a salários de fome. No filme, ela chega ao mesmo acampamento mais tarde, de modo que seu progresso se dá em uma curva ascendente, marcada pela última fala da Mãe: "Nós somos o povo... jamais deixaremos de existir."

Vencedor do Oscar de Atriz Coadjuvante(Jane Darwell) e Direção (John Ford). "Vinhas da Ira" foi indicado nas categorias: Edição, Roteiro, Som, Filme e Ator (Henry Fonda).

(The Grapes of Wrath - 1940)

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