sexta-feira, 22 de abril de 2011

O Equilibrista (2008)


Ao contrário das aparências, “O Equilibrista” não retrata apenas a história de uma façanha – um homem que andou sobre um fio metálico entre as Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova York, em 7 de agosto de 1974 –, indo além ao radiografar a personalidade que mantém essa estranha paixão de quase voar tão longe do chão, que é a própria razão de viver de Philippe Petit.

Impávido e infalível como Bruce Lee, como na canção de Caetano Veloso, o miúdo equilibrista francês sente-se melhor no mundo quando pode flutuar sobre um estreito cabo de aço a centenas de metros do chão, sem rede de proteção, contando apenas com sua incrível concentração, sapatilhas, cabelo ao vento e a vara de contrapeso nas mãos – uma situação que aterrorizaria a maioria dos mortais. Petit, no entanto, parece que não é deste mundo cotidiano, da procura das pequenas seguranças e amenidades que confortam a maioria das pessoas. O negócio dele é esse circo ao ar livre, de preferência em lugares não autorizados.

A façanha do WTC, de longe a mais ousada de sua vida, exigiu, aliás, uma logística impecável, mistura de operação militar e empreitada criminosa. Foi necessário que ele e seus comparsas driblassem a segurança dos megaprédios, ainda em construção, introduzindo ali as várias dezenas de metros de cabo de aço e ferramentas nada discretas que permitiriam a caminhada de Petit.

O filme reconstitui a aventura, contando com depoimentos do próprio Petit e seus amigos, bem como imagens filmadas em Super 8 ou fotografadas pela irrequieta trupe à época, que chegaram a passar-se por jornalistas para estudar melhor sua estratégia no topo dos prédios.

Contando com uma eficiente reencenação com atores, tendo ao fundo o áudio da narrativa empolgante de Petit e seus asseclas – entre os quais, cooptou-se alguns norte-americanos -, o documentário de James Marsh leva seus espectadores a poderem sentir quase o mesmo frio na barriga daqueles aventureiros em todas as etapas do processo. Como quando dia após dia, um a um, introduziam seus equipamentos nas torres, muitas vezes sendo forçados a esconderem-se debaixo de lonas e ali permaneceram imóveis por várias horas, para evitar serem pegos pelos seguranças do local.

A reconstituição é tão boa que, mesmo sabendo-se evidentemente que toda a operação foi um sucesso, sente-se muito palpavelmente o imenso risco envolvido em tudo aquilo. A aventura de Petit correu realmente o risco de falhar até o último momento, por problemas técnicos e até atmosféricos, como o forte vento nas alturas.

A grande façanha de “O Equilibrista” é não se esgotar na descrição desta grande ousadia e suas consequências – logo depois, Petit e amigos foram presos, sendo um deles deportado. O filme vai além, retratando a personalidade que mantém essa estranha paixão de quase voar tão longe do chão, que é a própria razão de viver de Philippe Petit, e captando, também, o clima libertário e contestador de sua época. Ninguém melhor do que ele para simbolizar esse espírito. Aos 60 anos, ele conta sem arrependimentos como sua grande façanha não o enriqueceu, apesar das tentadoras ofertas. Seus olhos só brilham mesmo pela paixão de seu esporte em extinção.

Em nenhum momento, o documentário cita os atentados do 11 de Setembro de 2001, que destruíram o cenário da aventura única do francês. Mas é inevitável que plateias informadas façam por si mesmas a associação entre os dois eventos, altamente midiáticos, embora de sinais tão opostos.

Ganhador do Oscar de Melhor Documentário.

(Man on Wire - 2008)

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