terça-feira, 22 de outubro de 2013

A Novela das 8 (2011)


Num tempo remoto quando a novela do horário nobre era conhecida como novela das 8 e começava mesmo às 8:30, Dancin’ Days fez história entre 1978 e 1979, ditando moda em figurino, trilha sonora, danças e gírias. O folhetim fazia um retrato da classe média carioca da época. No filme “A Novela das 8”, uma das maiores fãs do programa é Amanda (Vanessa Giácomo), prostituta que tenta marcar o horário de seus clientes de maneira a não perder o capítulo do dia.

Há dois pólos no filme. De um lado está Amanda, que, para usar um termo bem comum na época, era a alienada. E de outro, está Dora (Claudia Ohana), sua empregada, com um passado que a patroa desconhece. Ela foi guerrilheira, presa e torturada, teve de se mudar para São Paulo, usando uma identidade falsa, deixando para trás um filho, Caio (Paulo Lontra), criado pelos avós.

O roteiro, assinado pelo diretor Odilon Rocha, tem Dancin’ Days não apenas como um motivo de fundo, mas também como inspiração para tramas e o visual do filme e de personagens. Amanda e Dora são obrigadas a fugir para o Rio de Janeiro, onde a garota de programa sonha em badalar e conhecer a verdadeira boate Frenetic Dancin’ Days. Já a guerrilheira, tal qual a personagem de Sonia Braga na novela, se aproxima do filho, que não a conhece, fingindo ser outra pessoa. Nos figurinos também há a homenagem. Em uma cena, por exemplo, Amanda usa o mesmo visual de espanhola da personagem de Sandra.

Mas as boas ideias de “A Novela das 8” estão dispersadas ao longo do filme, ao qual falta força e unidade – apesar de ter duas excelentes atrizes como protagonistas. As tramas – especialmente aquela em que Caio quer assumir sua homossexualidade e se envolve com um diplomata em crise (Mateus Solano) -, muitas vezes parecem precisar de mais tempo para amadurecer. Em outras palavras, as deficiências do filme partem do seu alicerce: o roteiro.

Sobram homenagens – o personagem de Antonio Fagundes em Dancin’ Days também era um diplomata em crise, mas não era homossexual –, mas falta aprofundar os personagens para eles ganhem vida própria e deixem de ser a sobra daqueles da novela. O filme é um melodrama que poderia facilmente ganhar contornos almodovarianos com suas personagens femininas, mas falta exatamente aquela pulsação de vida dos filmes do espanhol, que lhe daria força e personalidade.

A novela das 8 propriamente dita – Dancin’ Days – mal aparece no filme, quando muito, se ouve a música de abertura. Faz falta, para aqueles que não conhecem o folhetim, assisti-lo um pouco mais para dimensionar a influência da novela. O filme tenta, até certo ponto, explorar o diálogo entre a realidade e a ficção. Mas do meio para o final sucumbe completamente à fantasia.

(A Novela das 8 - 2011)

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