quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Cosmópolis (2012)


Escalar Robert Pattinson como protagonista de Cosmópolis – mais conhecido como o vampiro Edward, da série Crepúsculo – faz muito sentido a partir do momento que se conhece o personagem, Eric Packer, um vampiro de almas, cuja essência foi tomada pelo dinheiro há muito tempo.

No primeiro roteiro de que David Cronenberg escreve desde eXistenZ (1999), o cineasta canadense adapta o romance homônimo do norte-americano Don DeLillo, que em si é uma espécie de Ulysses do capitalismo tardio da pós-modernidade, em que tudo é transformado em mercadoria – especialmente as relações humanas – até que deixem de ter qualquer tipo de valor, especialmente financeiro.

Boa parte do dia de Eric acontece dentro de sua limusine, de onde comanda negociações, entre outras coisas. A linha que conduz a narrativa é o desejo do protagonista de cortar o seu cabelo do outro lado da cidade. Enquanto está preso no trânsito recebe assessores dentro do veículo - como o chefe de tecnologia (Jay Baruchel) e um analista financeiro (Philip Nozuka), como também sua amante (Juliette Binoche) e até mesmo recebe seu médico que lhe faz um exame de próstata. No seu entorno, as coisas que acontecem dão notícias do mundo real – como um grupo de manifestantes que usam ratos falsos como seus mascotes, ou um encontro com sua mulher Elise (Sarah Gadon).

Cosmópolis é mais calcado em diálogos que expõem ideias do que em ação propriamente dita. As falas e representações criadas por DeLillo vão, aos poucos, encontrando seu correspondente visual nas imagens de Cronenberg. Eric é a personificação do mundo pós-moderno – nossa era – no qual mede-se o valor de uma pessoa pelo seu grau de consumismo e capacidade de acumular capital. Nesse mundo, ele é soberano, apesar da pouca idade – apenas 28 anos.

A confinação do personagem ao seu carro, nos traz ao mesmo tempo um sentimento de intimidade com ele e frieza – talvez por conhecê-lo tão bem, queremos distância dessa pessoa. É o paradoxo de um filme que traz um protagonista intragável. Nessa dialética, surge então o personagem de Paul Giamatti – uma antítese completa de Eric, gorducho, infeliz, sem dinheiro, ou como os americanos facilmente rotulariam: um perdedor.

Cronenberg mantém um distanciamento de seu personagem, do mundo dele – que se encerra em seu olhar vago, que apenas observa enquanto é tragado, o que faz remeter à personagem de Debra Kara Unger em Crash – Estranhos prazeres, do mesmo diretor. É um olhar sem alma, de um vampiro cuja existência se resume a sugar a energia das pessoas – seja em forma de sangue ou dinheiro, e se entregar a esse seu único prazer.

(Cosmopolis - 2012)

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