domingo, 11 de julho de 2010

Inimigos Públicos (2009)



“Inimigos Públicos”, de Michael Mann, revisita o clima da Grande Depressão dos anos 30, quando gângsters assombravam as ruas de várias cidades dos EUA e espalhavam ao mesmo tempo um rastro de medo e uma lenda particular. Um dos mais carismáticos, o ladrão de bancos John Dillinger (Johnny Depp), está no centro da história.

Como se pode esperar de um diretor com a folha corrida de Mann – a quem se creditam “Miami Vice”, “Colateral” e “O Informante”, entre outros – sabe-se que não se trata de um mero confronto entre mocinhos e bandidos. Aliás, nem há mocinhos. Os agentes do FBI que caçam Dillinger não são exatamente modelos de virtude - a começar pelo diretor do órgão, J. E. Hoover (Billy Crudup), que passou à História por cultivar métodos nada ortodoxos de investigação, com escutas ilegais e brutalidade correndo à solta contra os suspeitos e suas famílias.

Há várias camadas na trama, baseada em livro-reportagem de Bryan Burrough, mas que ganha tintas ficcionais no roteiro, assinado por Mann, Ronan Bennett e Ann Biderman. Assim, se a sucessão de fatos da vida de Dillinger corresponde à verdade, em linhas gerais, não faltam momentos em que a lenda predomina, para corresponder a uma certa licença poética que permite ao filme decolar, inclusive visualmente, mantendo a marca registrada do diretor.

Depp é uma escolha perfeita para a visão que se pretende mostrar de Dillinger – personagem que já foi objeto de outro filme, em 1973, de John Milius (Dillinger – Inimigo Público no. 1). Apoiando-se no carisma e no humor peculiar do ator, este Dillinger passa longe de um vilão de caricatura. Com um charme ambíguo, Depp carrega o peso do personagem, movido por sua fome de adrenalina e dólares roubados espetacularmente de bancos, à luz do dia, deixando não raro uma trilha de cadáveres. Um bandido, sem dúvida, mas que não se esquecia de deixar para trás ilesos tanto os reféns que arrastava nas fugas como o dinheiro do bolso dos clientes que haviam entrado no banco na hora errada. Dillinger só queria mesmo o conteúdo dos cofres dos banqueiros, criando para si uma certa aura Robin Hood que lhe valia não poucos admiradores – como demonstra uma cena em que ele é preso e vai sendo aplaudido por uma multidão à sua passagem.

Parte dessa admiração popular vem de suas respostas espirituosas à imprensa e também de seus hábitos audaciosos – como circular pelas ruas e lugares públicos no intervalo entre suas ações. O filme captura essa ousadia em alguns momentos, sendo o mais cínico e divertido aquele que mostra o ladrão, caçado em todo o país, passeando disfarçado nas dependências de uma delegacia de Chicago, no setor dedicado à sua captura. É também um momento em que o ladrão revisita seu passado, as fotos de seus companheiros já mortos, a própria instabilidade de sua vida acelerada.

Esta rotina entre assaltos e fugas de prisões – o filme retrata diversas delas, como a eletrizante sequência inicial – é rompida, finalmente, pelo interesse romântico por Billie (Marion Cotillard, em seu primeiro papel depois do Oscar por Piaf – Um Hino ao Amor). Por causa da moça, Dillinger corre alguns riscos, porque o braço direito de Hoover no FBI, o agente Melvin Purvis (Christian Bale, o Batman), não tarda a perceber e usar a moça como isca.

Se não chega a formar com o bandido uma dupla à la Bonnie e Clyde (casal de ladrões que apavorou os EUA mais ou menos na mesma época e foi tema de filme em 1967), Billie tem presença magnética na tela, confirmando o talento da atriz francesa, dando-se bem em papel falado em inglês. Christian Bale, por sua vez, mantém firme sua rota na maturidade. Há momentos neste filme em que lembra muito Robert Duvall.

(Public Enemies - 2009)

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