segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A Rosa Púrpura do Cairo (1985)



Esta comédia nostálgica escapa à fórmula usual de Woody Allen sobre “nova-iorquinos apatetados tendo problemas de relacionamento”. Tanto o diretor quando os seus famosos monólogos neuróticos estão ausentes dessa vez, mas os fãs não precisam se preocupar, porque as frases hilárias e os personagens esquisitos continuam presentes. Acima de tudo, o filme fala sobre o amor, talvez o maior de todos os amores de Allen: o amor pelo cinema.

Um tributo aos poderes mágicos da tela, “A Rosa Púrpura” conta a história de Cecília (Mia Farrow), uma garçonete pobre que, durante a Depressão, passa um bom tempo no cinema. “Eu esqueço de minhas tristezas”, confessa a jovem, que é aterrorizada pelo marido grosseiro e desempregado. Somente assistindo aos herois corajosos e invencíveis da tela é que ela pode resistir ao pesadelo diário que é a sua vida.

Pelo filme clássico de Preston Sturge, “Sullivan’s Travel”, sabemos um pouco sobre o quanto os americanos precisavam do otimismo trazido pelo cinema durante os anos da Depressão. Enquanto Cecília assiste, pela oitava vez, a um filme chamado “A Rosa Púrpura do Cairo”, o chamado heroi (Jeff Daniels) sai da tela ao seu encontro, sob os protestos do resto da plateia, que pede seu dinheiro de volta. Em um esforço para evitar um fiasco financeiro, os produtores de Hollywood enviam o ator que faz o heroi para seduzi-la. Embora o personagem fictício seja gentil e romântico, o astro que o representa é cínico e arrogante. Assumindo ambos os papéis, Daniels sugere com ironia a diferença entre o homem ideal e o real. Encantada com ambos, Cecília vivencia uma metamorfose impressionante de Cinderela em uma bela princesa, e o desempenho excelente de Farrow nos faz acreditar na transformação miraculosa.

O filme é uma meditação sobre a ilusão e seu final não é cínico, como o de outro filme mais recente de Allen, “Desconstruindo Harry”. A ficção pode salvar nossas vidas, afirma Allen convincentemente com “A Rosa Púrpura”. Dentre as falas há o comentário inesquecível de Cecília: “Eu encontrei um homem maravilhoso. Ele é fruto da minha imaginação, mas... e daí? Não se pode ter tudo”, nos lembrando a famosa fala final de “Quanto Mais Quente Melhor” – “Ninguém é perfeito” – e intensificando qualquer crença que possamos ter nos poderes mágicos do cinema.

Indicado ao Oscar de Roteiro Original.

(The Purple Rose of Cairo - 1985)

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