sábado, 17 de março de 2012

A Árvore da Vida (2011)


Em sua interrogação cósmica sobre a origem do universo e o sentido da vida humana, “A Árvore da Vida” nunca esconde suas altas ambições. É um tipo de pensamento filosófico, portanto, que guia este roteiro que situa em seu centro o personagem Jack (interpretado na maturidade por Sean Penn, na adolescência por Hunter McCracken).

A narrativa, em boa parte, é uma viagem às memórias de Jack, que visitam particularmente a infância passada em Waco, Texas. Nessa infância, os protagonistas são a mãe (Jessica Chastain), o pai (Brad Pitt) e os irmãos menores, um dos quais morreu adolescente.

Essa morte do irmão assombra Jack e é um dos motores a levá-lo a uma indagação maior sobre o sentido do mundo e a existência de Deus, pois é certamente num mundo impregnado de cristianismo que ele cresceu. Mas, dentro de seu coração, lutam os dois caminhos que o filme aponta desde o começo como as margens do curso da vida: o caminho da graça (encarnado pela mãe) e o da natureza (simbolizado pelo pai).

Este microcosmo representado por esta família, que é um protótipo da América dos anos 50, mas não só – pode ser vista como um modelo de família de qualquer parte do mundo ocidental – é inserido no macrocosmo do mundo natural. Assim, as imagens de “A Árvore da Vida” levam não só Jack como todos os espectadores a visualizarem uma viagem no tempo, à origem da vida no planeta, com direito à passagem dos dinossauros.

Em sua parte central, o filme divaga por esplêndidas imagens de natureza, como uma erupção do Etna, as geleiras da Antártida, os oceanos, diversos animais. Essas imagens fazem sentido dentro daquilo a que a história se propõe, reavaliar a trajetória de um homem, um homem qualquer, por suas perguntas sobre si mesmo e sobre a vida.

Se há um perigo a respeito de “A Árvore da Vida” é ser interpretado como um filme religioso, o que não é. Sem dúvida, a religião faz parte da própria formação dos personagens. Entretanto, se o filme de Malick tem algum fundo espiritual, ou seja, anseia explorar além da matéria, é muito mais filosofia do que religião. Mas sempre haverá quem pense o contrário, especialmente numa sequência em que Sean Penn revê os personagens de seu passado numa praia. Aí, porém, a psicanálise parece uma referência melhor.

A “Árvore da Vida” é um filme belo, intenso e raro, pelo arco que se dispõe a atravessar, pelas camadas de sentido que suas imagens quase hipnóticas conseguem desdobrar a cada visão, ao mesmo tempo que criando personagens de uma densidade impressionante, capaz de torná-los simbólicos e transcendentes, universais ao menos no hemisfério ocidental.

Indicado ao Oscar de Melhor Filme, Direção (Terrence Malick) e Fotografia.

(The Tree of Life - 2011)

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