domingo, 1 de julho de 2012
Blow-Up - Depois Daquele Beijo (1966)
Depois de uma série de obras-primas em torno dos conflitos da elite italiana e de Monica Vitti, de "A Aventura" até "O Deserto Vermelho", Michelangelo Antonioni tornou-se um cineasta internacional com este filme de 1966. Inspirado em um conto de Julio Cortázar, Blow Up, como "A Aventura", oferece um mistério sem solução, mas vai além, depois de um bocado de investigação obsessiva, ao questionar se sequer havia um mistério fora da cabeça do protagonista. Ao voltar seu olhar de forasteiro para uma Londres que começa a ditar moda, Antonioni captura precisamente um tempo e um lugar que pareciam ser culturalmente significativos. Como em "La Dolce Vita", de Fellini, um filme que nasceu com a intenção de ser um ataque satírico contra um determinado tipo de sofisticação e falta de substância modernas acaba se tornando uma celebração das modas, filmes, música, sexualidade e estranheza do mundo a ser condenado.
O personagem central é Thomas (David Hemmings), um fotógrafo talvez parecido com Antonioni, que divide o tempo entre violentas sessões de fotos com belas e diáfanas modelos e trabalho documental com os marginalizados. Ao tirar fotos a esmo em uma praça estranhamente vazia, na esperança de encontrar uma imagem de paz para concluir um livro, Thomas capta algumas imagens que parecem mostrar um homem mais velho e uma jovem (Vanessa Redgrave) em um momento sereno. Entretanto, a mulher persegue Thomas e exige que ele entregue o filme, e depois aparece no estúdio para insistir no assunto. Desta vez tenta seduzir o fotógrafo de forma agitada e neurótica, o que aumenta o interesse do frio Thomas no assunto. Ele lhe entrega o rolo errado e revela as fotos: sob intensa análise, acredita ter encontrado um homem com um revolver escondido atrás dos arbustos e capturado o olhar da mulher, talvez assustado, talvez cúmplice. Outra foto mostra uma forma distinta que poderia ser um corpo, e outra visita à praça leva Thomas a encontrar um cadáver. Mas então todas as provas são eliminadas e Thomas perde a convicção de ter esbarrado em um assassinato e se entrega às distrações que ocupam sua vida.
Apesar de um gancho ao estilo de thrillers (sempre homenageado em filmes de suspense como "A Conversação", de Coppola, e "Um Tiro na Noite", de De Palma), este é menos um mistério do que um retrato da alienação de uma geração. Em 1966, quando a nudez em filmes de língua inglesa ainda não era lugar comum, havia um peso em uma cena em que Redgrave tirava a blusa e se sentava no estúdio com os braços cruzados diante de seus seios. Sem falar na famosa (e na verdade até discreta) sequência em que Thomas rola no chão com uma dupla de ruidosas gruppies. Este é essencialmente um filme sobre um mundo estranho: a praça assustadoramente vazia, um show (do The Yardbirds) em que a plateia permanece impassível até que uma guitarra é destruída e os espectadores são tomados por um súbito frenesi, uma festa de doidões, onde Thomas procura alguém e então se torna incapaz de explicar o que está fazendo ali, e uma partida de tênis entre alunos de mímica, que conduz a um final ambíguo, quando Thomas é levado a entrar no jogo ao devolver uma "bola" perdida.
Indicado ao Oscar de Direção (Michelangelo Antonioni) e Roteiro Original.
(Blowup - 1966)
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