domingo, 1 de julho de 2012
A Excêntrica Família de Antonia (1995)
“O tempo não cura as feridas, mas alivia a dor e embaça a memória”. A verdade é que o tempo não perdoa nada nem ninguém. E perceber seus efeitos pode ser algo bem triste. A ele nada escapa, embora todos vivam suas vidas sem perceber isso. É sobre isso que fala “A Excêntrica Família de Antônia”, contando a história de quatro gerações da família desta generosa, moderna, e terna mulher, que viveu a vida de uma forma tão simples e afetuosa, que quando a hora de partir chega, ela simplesmente reúne a família, despede-se, fecha os olhos, e morre…
Na primeira cena do filme, escutamos os suspiros de Antônia (Willeke van Ammelrooy) seguidos pelas lembranças de seu passado a partir do momento em que retorna à sua cidade natal acompanhada de sua filha Danielle (Els Dottermans) para visitar sua mãe, já no leito de morte. A partir de então, Antônia passa a viver novamente ao lado das pessoas daquela cidade. Percebe-se rapidamente que é uma mulher diferente das demais, acolhida pela cidade, da mesma forma com que se convive “com uma colheita ruim, uma criança deformada, ou um manifesto da onipresença divina”, segundo as palavras da narradora.
Acompanhamos cinco gerações de uma família que vai se constituindo a partir do amor e da generosidade da matriarca, que não hesita em acolher de diversas formas os habitantes daquele pequeno vilarejo, dos tipos mais diversos possíveis: desde uma mulher que uiva para a lua cheia, até um casal de deficientes mentais que encontra o amor de uma forma inesperada e improvável, passando por um filósofo pessimista, uma filha lésbica e uma neta superdotada.
Belas cenas envolvendo a imaginação de Danielle, como no momento em que se apaixona pela professora de sua filha (quando a vê como a Vênus de Botticelli), uma bela maquiagem que demonstra fielmente a passagem de tempo, e a variedade de sentimentos presentes na trama vividos pelos personagens e compartilhados com o expectador. Tristeza, alegria, e um estranho sentimento de melancolia, quando se percebe que embora a “missão” de Antônia já fora cumprida, e que sua hora chegou.
“A vida quer viver!”, diz Antônia a sua neta em determinado momento do filme, e talvez seja esta mensagem que fica no final de tudo: perdas, ganhos, tudo isso faz parte da nossa história. Cada um encara de seu jeito o fato de que a vida não tem muito sentido para além destas contingências (de um lado há a celebração desta vida na família de Antônia, de outro a negação desta pelo filósofo), mas a única verdade é que embora permeada por vários fins e começos (o que é simbolizado no filme pelas constantes gestações que vemos em cena), a vida nunca é conclusiva… É como se fôssemos pequenos capítulos, ou quem sabe notas de pé de página desta grande epopéia que é o existir.
Vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (Holanda).
(Antonia - 1995)
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